Descobri que desejava mais do que um cemitério
Quando se aceita o chamado da deusa, nosso caminho toma rumos que sempre nos levam ao nosso devir.
A história dos jazigos seguiu por uma encruza mais profunda e simbólica. O que motivou a minha newsletter foi não só a possibilidade de enterrar palavras mas de transmiti-las a você com tranquilidade. O significado oculto estava em te trazer a emoção de receber um e-mail especial, algo que para além das minhas próprias reflexões, pudesse falar com você, com sua alma bruxa, e acima de tudo te ensinar a ser uma praticante astuta de bruxaria ctônica, de um jeito leve e acolhedor.
Enquanto estava sentada nas lápides eu me perguntei qual era a razão de sentir que esse espaço que criei, tinha um propósito mais direcionado do que apenas enterrar palavras. Ao pensar em escrever aqui uma força ancestral me toma e sinto as deusas e energias desejosas por uma conversa com bruxas de todos os cantos do mundo. Sinto que as minhas palavras podem chegar a muitos lugares e isso torna essa ferramenta revolucionária e muito necessária em tempos onde cronos continua sua tarefa. Parece que enfim podendo descansar, elas começaram a querer se movimentar para fora. Para o mundo.
Ao me fazer essa pergunta, outra palavra de origem grega surgiu derepente na lápide como um epitáfio direto, simples e autossuficiente, “nostalgia” anseio, desejo de voltar para a casa. Essa é uma das palavras que mais me definem, desde sempre se fez presente em minha vida e alcançou um espaço notório na minha própria bruxaria e jornada como sacerdotisa. Meu grande desejo sempre foi ajudar bruxas a voltarem para a casa. Não a toa essa é a principal ideia do meu apotecário. Foi assim que descobri que criei a newsletter por nostalgia pura. Aquela sensação de pegar uma xícara de café e ler tranquilamente, o sentimento antigo de coisas que muitos de nós não pudemos vivenciar, como por exemplo: receber cartas de uma bruxa e amiga distante. Eu descobri que quero ser essa amiga pra você. Meu espírito volta frequentemente para um tempo onde os correios eletrônicos e fóruns de bruxaria estavam em alta. Finalmente as bruxas se viram numa possibilidade de acessar conhecimentos que antes só eram acessados por participantes de covens de bruxaria.
Mercúrio retrógrado tem cumprido sua função, a fita rebobinou e voltei aos anos 90/2000, virada do milênio, anseios poéticos de uma possivelmente senhora, como é? CRINGE para os apaixonados por tiktok.
O cemitério foi uma forma de enterrar frustrações por estar exausta de tensões algoritmicas. Tempos depois nessa área uma pequena cidadezinha foi construída. Ao fim da rua havia um bosque de galhos farfalhantes e uma casa rústica, aconchegante, com um jardim repleto de plantas de toda natureza. Nela jaz uma bruxa ctônica, escritora, folclorista e apotecária. Para além de tudo isso, uma amiga com o poder de criar fendas no espaço tempo, capazes de fazer com que possamos voltar ao essencial, aquilo que faz de nós bruxas, amantes do oculto, cultuadoras da deusa em um mundo de caos, intolerância e injustiça. Ainda somos caçadas constantemente e nossas práticas são vistas como malignas, mas resistiremos em um elo, um círculo, uma egregora formada por hereges de todos os recônditos de Gaia.
Com amor e heresia, Obsi 🤎